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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A flor

   Ele tossiu ao dar a primeira tragada. Curvou-se sobre si, dramatizando a sua própria humilhação. Droga, pensou, não sirvo nem pra fumar. E atirou ao chão aquele objeto que tanto arquitetara para furtar. Imaginou, outrora, vê-la saindo de um lugar qualquer, a cara emburrada, o peito pesando uma tonelada, a descoberta de um engano em mente. Terrível engano. E a primeira coisa que seus doces olhos focariam seria ele. Indiferente. Distante. Inalcançável. 
   Mas ela saiu da lojinha de quinquilharias com um sorriso. E ele nem cigarro tinha pra fazer pose. Fez um rodopio para seu espectador, seu vestido listrado brincando de bailarina. Rindo-se às gargalhadas por se dar ao direito de ser criança apesar de grande, só não tão grande assim. Seus olhos o encontraram, deu-lhe seu aceno teatral. Tudo o que ele já conhecia tão bem. Os dentes um tanto afastados não a intimidavam, era feliz sem importar-se com aparelhos. E no rosto sempre alguma pequena espinha vermelha marcando presença, nada que a fizesse esconder-se detrás d’alguma maquiagem, nada de esconder-se detrás de alguma máscara. Era tão absurdamente ela. E isso a fazia ser tão intrinsecamente nele.
   Veja bem, não dele.
   O dono dos seus sorrisos e rodopios estava logo ali. Embora não merecesse. Comprara uma caixinha de joias barata, com desenhos de copos-de-leite. Não sabia nem a sua flor favorita, porém a ganhara com uma flor. E ela se achega ao outro, pendendo levemente a cabeça para o lado, como se para captá-lo melhor. Nenhum sentimento de culpa, nada de descobertas revolucionárias, apenas ele, ela e o outro. Apenas frustração separada por paixão e paixão. Afastando-se a passos lentos, para importuná-lo ainda mais. Maldito vento, também, carregando-lhe a risada. 
   Carregando-lhe fragmentos de sua voz, inocentes exclamações. A flor, minha flor, a flor do outro. Já adquirira um significado tão intimo para ambos, embora fosse tão mais dele. Ele, que a observara primeiro, esquadrinhara-a com tanto afinco. Lutara para ser seu grande amigo, o único digno de ter visto a lágrima teimosa escorrer brevemente. Em cuja pele desenhava por diversão. 
   Agora, no entanto, ia na direção oposta, pisando num cigarro inútil. Tentando se encontrar sem vê-la dentro dele, tão mesclados estavam ambos. Torcendo para que o outro não se habitue a vivacidade que tanto o fascinava, torcendo para que ela nunca parasse de sorrir. Seguindo o caminho tanto antes retratado, mas que nunca pareceu ser dele. Absorto na pergunta cuja resposta não queria ouvir. Porque as pessoas só veem o que querem ver.

Minha flor serviu pra que você achasse alguém, um outro alguém
Que me tomou o seu amor
E eu fiz de tudo pra você perceber
Que era eu
Los Hermanos

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Quanto vale o tempo?

    Hoje, ao olhar pela janela do meu quarto,  fiz-me essa pergunta. “Quanto vale o tempo?” Assustei-me com a profundidade dela, o modo como me veio e principalmente pelo por que. Confesso que tudo isto e o fato de que neste exato momento tenho lágrimas nos olhos advém ingenuamente de um livro que é uma releitura de um conto de fadas. Sim, eu também acharia graça se fosse você.
    Nunca, ao simplesmente baixar um livro com o único propósito de ser mais um número na minha lista desse ano, poderia supor o quanto mexeria comigo. Você, se lê-lo, provavelmente vai me considerar meio... louca. Falo isso por falta de descrição melhor. O meu lado racional está gritando que estou fazendo um alarde por uma escrita meia-boca e um enredo de uma originalidade peculiar, mas previsível, enquanto meu lado emocional me lembra o quanto eu chorei ao me colocar no lugar daquela criança de cem anos de idade. Irônico, eu sei.
    Na verdade, estou agarrada ao meu travesseiro(sem coragem de tirar minha ursinha de pelúcia de roupinha rosa – chamada Romã – de dentro da embalagem que a protege do pó) indagando por que diabos as pessoas insistem tanto em fugir da realidade. Confesso que de um modo bizarro me vi em Rose Samantha Fitzroy, não porque tenha pais donos da maior empresa do mundo, capazes de comprar uma máquina e me colocarem lá dentro durante anos, ou meses dependendo do bom humor deles, para dormir. E sim porque nunca me permiti viver. Tenho minha própria máquina barata chamada alienação.
    Essas máquinas, a propósito, são intrinsecamente diferentes. Enquanto uma mantém jovem eternamente, a outra te tira alguns prazeres pueris, por causa do amadurecimento precoce, dependendo do caso, ou te transporta para uma dimensão paralela em que você simplesmente diz “dane-se” e vai viver – particularmente acho essa bem interessante. Mas por que criamos isso? Por que temos essa necessidade de fugir de fantasmas interiores que sabemos que não são reais? Por que não dá pra “encarar”? Nos afogamos no trabalho, livros, exercícios. Coisas que aparentemente são boas, até mesmo saudáveis que, entretanto, estão nos destruindo.
    Então você só olha para a janela. Quanto, quanto vale o seu tempo? Amanhã você pode acordar e perceber que seus pais, seus amigos, a sua familiar tecnologia, o amor da sua vida... tudo o que um dia foi você, simplesmente se esvaiu. Perdeu um dia, uma semana, um mês de férias, dois dias de aula, por nada. O seu alarme toca avisando da prova de matemática da semana que vem, do trabalho de física que você não fez e nada faz sentido.
    Viver dói. Simples assim. É muita mais fácil se afundar em alguma coisa e esquecer de si mesmo. Até a esperança de um milagre corta. Mas dormir por sessenta e dois anos só vai piorar tudo. Não é isso que quero dizer, afinal? Dê valor ao seu tempo. Permita-se.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Por quem lutar

    Ao longo da vida a gente aprende a dizer adeus a várias coisas, nossos amigos de infância somem, eu, por exemplo, nem lembro o nome deles  fato que me trouxe um belo desconforto ao perceber que tinha dito na cara do meu melhor amigo de infância que não fazia ideia de quem ele era , alguns morrem e outros nascem, às vezes nós vamos embora, outras vezes eles que vão. É um ciclo sem fim.
    E por mais que detestemos esse tal de desapego, o tempo, talvez a distância, faz isso conosco. Eu sempre acabo mudando nesse ínterim, motivo pelo qual culpo o desapego e o “ter de fazer novos amigos”, a gente vai se moldando às pessoas a nossa volta, a nova situação. É maravilhoso, suponho, mas também é triste.
    Comigo é ainda mais complicado, desde pequena minha família se muda bastante, e vim parar nessa cidadezinha de interior com um sotaque paulista e uma mente completamente desocupada. Particularmente, acho que a Samyle, a devoradora de livros, a escritora de gaveta, nasceu aqui, por isso tenho um certo medo de sair desse lugar que aprendi a amar e admirar com todas as forças.  Mas os quatro anos que aqui estive também foram de desapego. Primeiro, com o pouco do grupo da oitave séria que sobrara, depois com o fato de que tive de fazer novos amigos e sair da minha zona de conforto.
    Dessa vez eu não mudei de região, as pessoas simplesmente se afastaram, inclusive eu. Embora jurássemos que seria eterno, não fizemos por isso. Reinou a vontade do nariz, adaptando a frase do meu amado Machado.
    Contudo, uma pessoa sempre voltou. Embora tenha ido para outro colégio no primeiro ano, em março estava rindo conosco no mesmo banco da oitava, apesar de ter mudado para outra cidade, em agosto já confirmou que estaria lá novamente, dando uma desculpa qualquer para tal. E mesmo quando estava longe, sempre vinha visitar-nos com um sorriso no rosto. Cheguei a conclusão de que há, sim, pessoas que sempre voltam. É por elas que devemos lutar.

domingo, 19 de maio de 2013

Carta aos vinte e um

    Hoje eu acordei aos quinze anos e, você, aos vinte e um. Não sei se irá se lembrar dessa menina meio muleca meio mulher que me tornei, não sei se terá a opinião de todas as pessoas que perguntei de que essa idade é,  sim, um marco na vida de uma garota e que tudo irá mudar daqui pra frente. Não sinto nenhuma mudança, aliás, não acordei com uma cabeça diferente e nem outros objetivos, continuo lotada de coisas pra fazer, como conseguir terminar de assistir Bleach esse ano e ainda ler cinco livros ao mesmo tempo (ou seriam seis?) me perguntando quando irei terminá-los tendo tantas borboletas e passarinhos pra fazer, sem contar o vídeo de fotos, que irão direto para a festa do meu aniversário que já está me tirando do sério.
    As suas preocupações não são essas, eu sei. Se não me engano, esse é o seu último ano de faculdade e, te conhecendo como conheço, você deve estar tendo a mesma crise do 3° ano, repetindo que definitivamente agora você é uma adulta e terá de trabalhar pra tirar o seu sustento, com um medo tão grande de ter errado a escolha, de nada dar certo... Mas isso passa, você superou a crise do 3° ano, lembra? Tinha uma leve dúvida se esse seria o fim da minha vida, somos neuróticas, você sabe, mas se aguentou essa pressão já não faz mais diferença. Minha meta aos quinze anos, você pergunta? Conseguir ler cem livros no período de um ano.
    As diferenças entre nós duas já devem formar um abismo. Você cresce rápido, menina. Seus gostos mudam quase que completamente de um ano para o outro, ou talvez já tenha chegado àquela parte mágica da vida que a psicóloga da minha atual melhor amiga lhe falou, quando finalmente temos uma personalidade formada. Mas nós duas sabemos que viver é ser um eterno aprendiz, então descarto essa parte.
    Não se esqueça porém da nossa ancestral comum, uma menina de dez anos que sonhava em fazer quinze, imaginando um namorado à lá Zac Efron do High School Musical, e uma de quinze que sonha com os vinte e um, tentando não criar expectativas para sua nova “idade do siso” enquanto te pede pra ser feliz, por ela, pela menininha de dez anos e por todas as anteriores e posteriores que fizeram parte dessa história que é só sua.
    Qual o motivo dessa carta, afinal? Ela não tem motivo, é apenas mais uma das nossas sentimentalidades. Talvez eu queira te mostrar o que sou agora para que me procure, pelo menos um pouquinho, dentro desse conjunto que te faz inteira. Não sei se ainda quer ser escritora, se ainda escreve. Sonhos mudam, às vezes, como o da menina de dez anos que queria cantar e hoje, embora ainda tenha uma voz agradável, tem vergonha de mostrá-la. Não sei se escreveu algumas coisas e tem medo de publicá-las, medo de que estejam ruins. Vendo desse jeito, somos a mesma coisa, não damos o braço a torcer, mas queria que, só hoje, você fizesse o que deseja, seja se declarar para alguém (sempre quis me declarar para alguém, nos filmes é tão bonitinho!) ou fazer a loucura do ano. Você só faz vinte e um uma vez na vida, então torne isso marcante, assim como eu resolvi tornar marcante essa atual data com uma festa grande demais para os meus hábitos reclusos. Eu estou devendo isso a garotinha de dez anos, pra lá na frente, aos quarenta e talvez mais, possa dizer que fiz tudo o que podia fazer e que não mudaria nada. Porque tudo, minha cara, fez de mim o que sou hoje, e posso te dizer com certeza que já gosto do resultado. Te desejo isso também. Feliz aniversário.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Menina estranha, essa.

    Ela não queria um príncipe encantado ou viver um conto de fadas, galãs de cinema não povoavam seus pensamentos ou são seus esteriótipos de amor, não queria nenhuma história digna de filme, nem uma coincidência espetacular, um clichê qualquer servia. Menina estranha, essa. No fundo só queria ser amada e, principalmente, amar.
    Não digo que a culpa é dela, a gente não têm tanto controle assim dos nossos sentimentos, embora ela creia que isso é apenas uma desculpa para a obsessão de alguns. Veja bem, ela não é insensível, somente nunca se apaixonou como muitos da sua idade, mesmo que esses "muitos" acreditem que já tenham. Ela foi mais sincera consigo, ou então a mais tola.
    Espanta-lhe ver esses sorrisos tímidos em rostos repletos de uma felicidade pueril, essa paixonite é tão bonita. Não se lembra de ter sentido isso uma vez sequer, mesmo quando jurava que tinha encontrado o amor da sua vida, pouco depois veio a certeza de que tudo não passara de uma peça pregada pela sua imaginação. Então a paixão é isso, um enganar a si mesmo?
    Ela não sabe, talvez nunca venha a saber, esse pode ser um daqueles segredos universais. E se importa tanto, indaga-se, se martiriza com uma dúvida insolúvel. Menina estranha, essa. Não é bom procurar acasos senão eles não cruzam o nosso caminho. E o que mais seria esse encontro de almas se não um feliz acaso?
    A verdade é que a gente quer apressar as coisas, por isso enxergamos acasos onde não tem. E depois se decepciona tanto... ao ponto de não acreditar mais. Mas não faz mal, colecionar erros também significa viver. Agora solta o ar devagarinho, aprende a respirar sem pressa, porque o que há de ser, será.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Nostalgia precoce

    Seguro a foto que mostra a primeira vez em que fui ao colégio. Sorriso confiante, mochila rosa. Hoje eu tenho aversão a rosa, mas bem queria esse sorriso. Lembro de quando entrei no Ensino Médio, a realidade deu-meu um tapa na cara. É por sua conta agora, menina, ela disse. Acho que me dei um jeito, cheguei aqui sã e salva. Bem, talvez só salva.
    Segundo Ano do Ensino Médio e já me sinto nostálgica. É porque tudo está tão mudado, sinto falta da leveza da oitava série, das risadas levianas do Primeiro Ano. Os grupos estão diferentes, a sala milagrosamente está se unindo. Abandonei minha timidez, passei a conversar com várias pessoas, mas agora tenho saudades de ter amigos, àquele grupo que se conhece tão bem. O que mais esse ano reserva pra mim?
    Olho ao redor e não enxergo nenhum indicio da fase a que chegamos. Encontro rostos conhecidos da oitava série, que ainda me parecem idênticos, e outros novos que são tão moleques quantos os nossos. Apenas quando noto as séries menores percebo como crescemos. É... Embora tenham nos dito isso, nunca acreditamos.
    Caminho lentamente pelos corredores, tentando guardar memórias e desenterrar lembranças. Tanta gente se foi, tanta gente chegou, tomou os seus lugares e ninguém sente falta. Exceto eu, talvez. Sou muito apegada aos meus amigos, sem eles nada é igual, a sala já não é a nossa sala e o colégio, não é mais o nosso colégio, embora meu cérebro se recuse a aceitar esse fato. A gente tem de se acostumar, ou pelo menos fingir.
    Observo o pátio e inspiro lentamente. O colégio tem cheiro de primeiro amor. Agora até mesmo os mais bobos já tiveram o seu momento, uma desilusão ou uma vontade sem nexo de vomitar toda essa súbita paixão que o invadiu. Sorrio levemente. Essa é a tal da primeira fase.
    Sabe Deus o que está por vir.
    Aliás, todos nós estamos com medo. O sentimento de impotência e confusão é geral. Teremos de decidir o rumo de toda a nossa vida, um passo em falso e nossos sonhos desmoronarão. É pressão demais para cabeças tão jovens, vocês percebem o que estão fazendo conosco?
    É surreal. É oficial. A escola está acabando, agora seremos obrigados a amadurecer precocemente. Bem-vindo a vida adulta!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Dissimular

    Gostaria de entender essa necessidade humana de disfarçar. De vestir uma personagem e desfilar pelas ruas sorridente como se seu coração não estivesse a ponto de explodir. Não seria mais fácil chorar? Gritar a sua amargura a quem a causou? Não iria aliviar essa pressão, esse mal-estar?
    É um ciclo vicioso, eu não consigo fugir. Continuo com a mesma máscara indiferente, embora saiba que as pessoas estão construindo suas vidas e eu continuo aqui, parada como uma estátua na mesma encruzilhada. Não veja como egoísmo, estou feliz por elas. Só não aguento suportar toda essa saudade sozinha, sem coragem para fazer uma ligação para dizer meramente "eu sinto sua falta!". Parece mais fácil ignorar.
    Apenas preciso de alguém que grite "eu me importo" para pôr pra fora esses assuntos pendentes. Quero que alguém chegue sem avisar, sem bater na porta. Simplesmente entre e se esparrame na minha cama enquanto diz coisas sem importância, na maior informalidade. Sinto falta dessa intimidade que destrói qualquer senso de decoro.
    Mas não faço nada, já não corro atrás de ninguém para lhe fazer cócegas ou os abraço com todas as forças. Me contenho com medo de ser inconveniente, por não ser algo normal. Esqueço que foi esse "normal" que nos transformou em pedaços de carne sem emoções.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Tenho o direito de ser leviana também

    Apesar dessa quantidade de textos que trazem algum tipo de aprendizagem, eu também sou leviana, como qualquer pessoa da minha idade.
    Também gosto de moda, até leio revistas Capricho que pego emprestadas (porque não gastaria dinheiro com  coisas sem-futuro), sou meio orgulhosa, mimada, super protegida, a menininha do papai que age como uma criança quando pede algo.
     Também me derreto com romances açucarados, àqueles bem fofos e ingênuos, cheios de clichês, tudo o que não vou viver nesse mundo corrompido. Meus queridos shoujos: Kimi ni Todoke, Aoharaido e Clannad After Story (sem falar que chorei litros nesse, foram os seis últimos episódios, sem parar. É lindo demais!). E fico com àqueles personagens na cabeça, com a certeza de que serei uma solteirona cheia de gatos. Me divirto vivendo o que não é meu.
    Também falo muita merda, rio sem motivo e pago muitos micos nonsense com meus amigos.  Eu sempre fico vermelha quando eles falam sacanagem e eles sempre riem da minha cara por isso. E sou feliz assim, sendo essa mistura tão nada a ver, metade escritora-madura e, a outra metade, uma menina como muitas outras, que está crescendo ao seu modo.
    Embora o meu grande propósito seja amadurecer, aprendi que devo aproveitar as etapas da vida. É como a dona da livraria disse pra mim e minha melhor amiga: "se você tem quinze anos, deve fazer coisas de meninas de quinze anos". Na hora, não concordamos. Nós duas sempre quisemos crescer rápido, ela porque pretende morar sozinha em breve, e eu por mero capricho de não ser tratada como "criança".
    Veja bem, agora eu entendo o lado dona da livraria. Somos jovens apenas uma vez, esse tempo não volta. Então devemos aproveitá-lo aqui, neste exato momento. É importante ter cabeça para entender que crescer não acontece de um dia pro outro e sim através de desafios, que talvez sejam meras bobagens. Contudo, essas bobagens vão se tornar lições, que serão úteis de alguma forma.
    Quando falo em aproveitar, não significa que vou abandonar os meus estudos, virar hippie ou fugir com algum cara que se autodeclare o amor da minha vida. Não é nada disso, pra mim é loucura cada exemplo que citei. Apenas não há nada de mal em ficar alegre quando um rapaz te olha diferente, quando se encontram por algum acaso, ou em jogar no intervalo, chorar por besteira, estar fantasiada de Charle Chaplin na praça em frente ao seu colégio (é, já fiz isso) ou se apaixonar por idiotas pra depois aprender a discerni-los. É bom quebrar a cara, sério. Esses momentos farão parte da nossa história. E, não sei vocês, mas eu quero ter o que contar quando for mais velha.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Sobre ser o seu melhor

    Eu sempre me senti como um peso morto, impotente e, às vezes, inútil. Acho que nunca me esforcei em nada, de fato. Já participei de várias coisas e ganhei boa parte delas, mas não sinto que dei o meu melhor.
    Isso porque tenho o azar de ser boa em tudo que me interessa. E quando não é assim, geralmente desinteresso. Quando tinha aula de violão, pegava as notas em questão de segundos e, no ano passado, quando resolvi ser uma boa aluna, daquelas que anotam até a explicação, virei uma dos "estudiosos" da sala. Se bem que não estudava direito, continuei com a mania de só me dedicar na véspera das provas, não que eu esteja reclamando da minha boa memória. Em suma, nunca senti que as coisas que fazia eram suficientes.
    Nessas férias percebi isto enquanto assistia Chihayafuru. Chihaya Ayase sonha em ser a Rainha do karuta (um jogo de cartas muito comum no Japão, em que cada carta é um poema d'Os Cem Poetas Clássicos do país que, para ser jogado, requer memória, rapidez e estratégia. Os melhores jogadores são o Mestre e a Rainha), acompanhei todo o esforço, quedas e superações dela e de todos os outros personagens com admiração e uma certa inveja.
    Foi assistindo este anime que entendi que só nos sentimos realizados ao ganhar algo, por menor que seja, quando a caminhada é repleta de problemas e perseverança. Nunca vi alguém dar valor à uma coisa que ganhou de mão beijada, um exemplo é a Rainha, que é boa demais para absolutamente todo mundo, exceto, talvez, o Mestre.Um troféu só representa uma vitória quando há uma batalha por trás dele.
    Assim decidi que quero dar o meu melhor sempre. Não importa se estou lavando louça ou estudando para o vestibular. Dar o seu melhor é imprescindível para se sentir bem consigo e com o mundo, mesmo que seja difícil e que, às vezes, dê vontade de desistir. Perseverança é a chave para superar até mesmo decepções.
Já que vocês gostaram da postagem que fiz neste estilo, uma resenha/texto, trouxe esta para "inaugurar" o ano por aqui... (Eu queria mostrar esse jogo para vocês, achei um vídeo que foi passado em um jornal, então acho que é uma disputa de Mestre e Rainha porque geralmente é transmitida em nível nacional... Veja o vídeo, está em japonês, mas dá pra ver como é jogado...)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O ciclo de começos e finais

    Nunca imaginei que mudaria tanto em um ano. 2012 me amadureceu, trouxe-me certezas absolutas e transformou a minha visão de mundo. Sinto que cresci, a menina que acreditava em contos de fadas (ou quase isso) mudou drasticamente de lado; não é adulta, só crescida.
    E o ano está em seu fim, no entanto, me marcou eternamente. Nunca tinha encontrado tantos defeitos em mim, acho que sempre ignorei este meu lado, mas também nunca tive tanto orgulho do que me tornei.
    Lembro que uma das metas que fiz ano passado, nesta mesma época do ano, era amar. Não namorei, muito menos me apaixonei; mas amei, e muito. Nunca amei tanto os meus amigos, nunca agradeci tanto pelos pais e irmãos que tenho e nunca me alegrei tanto na pequena família que possuo. Embora não tivesse isso em mente quando fiz tal pedido, não reclamo. Ao contrário, me sinto realizada.
    E o ciclo vai recomeçar. Sei que vou continuar mudando, tenho certo receio do que está por vir, no entanto, espero que tudo mude para melhor. Eu pretendo dar o melhor de mim, o que não significa que serei a melhor, mas estarei me esforçando.
    Eu só tenho a agradecer à Deus por este ano, por todas as lágrimas derramadas, por todos os sorrisos sinceros, por todos os problemas, pelas gargalhas sem fôlego, pelos puxões de orelha, pelas aventuras vividas, pelas confusões, por todas as lições de vida que levo comigo, por todas as pessoas que fazem parte da minha história, que leram-me, compreenderam-me e também desabafaram por aqui. Enfim, por tudo que fez de mim o que sou hoje. Obrigado.

Feliz ano novo, meus queridos ;D

sábado, 22 de dezembro de 2012

Como superei o meu amor

    Eu poderia contar como me alienei do mundo, falar de como fugi de mim mesma... mas isto não mudou coisa alguma.
    Lembro que tentei várias táticas para te esquecer, procurei outro alguém, como me aconselharam, numa desesperada corrida para ocupar esta ausência. Distribui sorrisos hipócritas, fiz promessas falsas, planos volúveis e alimentei amores inexistente ou simplesmente imaginários. Mas nada disso me fez superar você.
    Mergulhei de cabeça nos livros e filmes, quis viver histórias que não eram minhas e ignorava o mundo o máximo que podia. Mesmo assim você não saia do meu pensamento, porque era o intruso de todos os roteiros e eu nunca soube improvisar nos papéis.
    Olha, eu cai várias vezes assim. Levei muitos tapas da vida e tive de rastejar pelo caminho enquanto dizia: está tudo bem, eu estou muito bem. No entanto,  nós dois sabemos que fingir nunca é o suficiente.
    Então, parei de ignorar a dor dissimulada, até que, devagarzinho, ela se foi. E foi fazendo uma faxina que superei o meu amor; foi tirando o pó e as teias de aranha daqueles assuntos tão dolorosos, foi fazendo o que considerava um ato de fraqueza mas que, hoje, vejo como o de maior coragem: eu chorei.
    Assim eu aprendi que chorar é ser sincero consigo mesmo.
    Eu simplesmente tive de arrumar a bagunça que você fez, e que não fez sozinho, é verdade. E que bagunça, meu caro! Até hoje não achei o meu coração para perguntar: poxa, por que não consigo gostar de ninguém? Já joguei tanta coisa fora, os esteriótipos, preconceitos, idealizações e nada. Absolutamente nada acontece.
    Mas, ainda que eu continue sendo esta garota machucada, eu te superei. E isso já é um começo.
Espero que gostem deste texto, apesar de não estar tão bom assim. Ah, sobre o link de Natsume Yuujinchou, eu já arrumei (o site tinha saído do ar) e pra quem gostar como eu, vale lembrar que têm mais três temporadas: Zoku, San e Shi. Além do mangá, para quem prefere ler, aqui.Ah, Feliz Natal ;D

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Reflexões sobre a Sensibilidade

    Esta semana terminei de ver a melhor estória de fantasia de que já tive conhecimento; confesso que estou com saudades. Pra mim, tal estória é melhor que Harry Potter, Percy Jackson e até Nárnia, tudo por um simples motivo: Natsume Yuujinchou [O Livro dos Amigos do Natsume] transborda algo como nunca vi em lugar algum. É uma complexa metáfora sobre a pura sensibilidade.
    Takashi Natsume perdeu os pais bem cedo e, desde então, mora na casa de parentes, se mudando quase toda semana porque ninguém suporta as suas "mentiras".  O que de fato ocorre é que ele é o único com sensibilidade o suficiente para enxergar o que ninguém vê. Retirando a metáfora, eis o que a filosofia chama de desbanalizar o banal.
    Já parou pra pensar como as pessoas são "descartadas" por serem sensíveis? Não me refiro àquelas que choram por tudo, essas são dramáticas, mas sim àquelas que enxergam o mundo de modo diferente, de opinião forte.
    Tenho o exemplo de uma amiga minha minha que, quando menor, era a "excluída" da turma por ser alguém de opinião própria e não uma Maria-vai-com-as-outras. Ela ainda é assim, e a admiro muito, com ela amadureci bastante e devo boa parte do que sou hoje às nossas discussões. São pessoas assim que mudam o mundo.
    Takashi mostra isso com uma habilidade sem par. Sua sensibilidade é tanta que ele é capaz de compreender o lado dos outros, se preocupando com o bem-estar alheio e olhando sem rancor as pessoas que o machucaram profundamente. Uma das passagens que mais me tocou foi na última temporada, quando ele reencontra uma menina que o maltratava quando menor. Ele diz, brevemente e com um sorriso no rosto: eu não vou roubar a sua família.
    E eu quero ter toda essa sensibilidade, ser capaz de ver tragédias no jornal e me emocionar, como a amiga que mencionei, em vez de tratá-las como algo normal, banal. Eu também adoraria se as pessoas tivessem, ao menos, um pouquinho da personalidade do Natsume: serem calmas mesmo quando sofrem injustiças; não serem egoístas e orgulhosas com seus dons e saberem se colocar no lugar do outro. Esta é a pura sensibilidade da qual precisamos.

Bem diferente o post de hoje, não é? Espero que tenham gostado, acho que estou um pouco sem criatividade, mas gostei desse texto, por isso ele está aqui. Ah, vou ficar menos online, acho, porque pretendo assistir mais animes (como deu pra perceber) e ler todos os livros que encomendei nessas férias. Claro que vou continuar retribuindo todos os comentários, desde já agradeço por todo o carinho de vocês, seu lindos ;D

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sobre "aproveitar o momento"

    Eu tive diversos momentos este ano; deixei todos passarem. E, quer saber? Não me arrependo. Por que eu sei que não era O momento.
    Para começar, encontrei o cara dos meus sonhos no dia do meu aniversário. Eu sei, parece estória de filme barato, mas aconteceu. Precisamente no mês de maio. E foi assustador; porque sair do carro e perceber que alguém te observa minuciosamente, e que esse alguém é o seu tipo  ou seja, aquela cópia da sua imaginação ociosa  é nada além de bizarro.
    Eu fiquei paralisada pelo medo.
    Medo da aparente perfeição, da situação fantasiosa e da coincidência. Eu não me dou bem com coincidências, também duvido deste "destino". A vida me ensinou assim. Pra você ter uma ideia já gostei de um rapaz que encontrava várias vezes por pura coincidência, até mesmo numa viagem quando o meu pai foi pedir uma informação ao carro que estava parado na estrada e, quando olho pro lado do passageiro, o vejo. Exatamente, são milhões de carros no mundo, mas tinha de ser logo o dele. E ele, definitivamente, não é o amor da minha vida. Graças a Deus!
    Eis a lição que tirei de tudo isso: começos fabulosos não garantem boas histórias. Então, mesmo me martirizando durante meses indagando se deveria voltar ou não, se deveria me dar uma segunda chance, decidi não fazê-lo. Afinal, eu estou no ensino médio, provavelmente vou fazer faculdade em outro estado e... o quê? Namoro a distancia?
    Enquanto lia Charlotte Street, isso passava pela minha cabeça toda vez que surgia a expressão "aproveitar o momento". Jason, o protagonista de trinta e dois anos, deve aproveitar o momento. Eu, não. Porque não é o momento disso; pois eu sou somente uma criança imatura, que gosta de dar uma de culta, e que se acha dona do próprio nariz.
    Estou no momento de aproveitar a amizade; àquela época em que a gente tenta criar laços eternos. Também estou sofrendo com a indecisão em relação ao futuro e creio que isto também seja importante. No sentido literal da expressão, "aproveitar o momento" é tão somente viver o agora. É deixar que os dias passem sem ter vontade de volta atrás ou de "pular etapas". Portanto, aproveite o hoje, porque o tempo não corre ao contrário.
    Um dia, talvez o encontre e diga isso. Talvez peça desculpas por ser tão idiota, acho que o machuquei, não sei por que, só acho. Talvez, um dia, ele saiba que ainda sei o nome dos pais dele e que lembro dos seus rostos, embora só os tenha vista uma vez.  Talvez.

"Às vezes, a vida é apenas a vida. Coisas acontecem, então outras coisas acontecem, e frequentemente não há coisas extras no meio."
Charlotte Street, pág. 173

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Se expor no facebook NÃO vai mudar a sua vida

    Sinto te informar, mas eu não estou preocupada com a sua vida. Sou egoísta? Talvez. Porque eu não pedi pra saber dos seus problemas, tá, meu bem? Eu simplesmente estava na rede internacional dos desocupados tentando matar o tédio.
    Então, por favor, pare de se expor ao ridículo! E daí que levou chifre? Você continua com ele, não é mesmo? Se tudo está exatamente como era antes, qual o sentido de postar mensagens nada indiretas na sua linha do tempo? Pra quê divulgar a sua vida intima? Eu não preciso saber que você é uma corna conformada!
    Deixa eu te contar um segredo: se expor no facebook não vai mudar a sua vida. As pessoas vão simplesmente rir de você. Eu ri de você. Dois dias seguidos e com pessoas distintas do meu ciclo social.
    Estava esperando pena? Pra sua informação, eu só tenho pena daqueles que se esforçam pra ter uma vida melhor, mas não a conseguem, como certos moradores da África e alguns viciados em drogas. Eles estão batalhando, embora raramente sejam recompensados. Enquanto você continua sendo uma menininha dramática e hipócrita que, para não ficar só, atura todo tipo de situação pelo seu "grande amor".
    Aliás, também detesto essa gente apaixonada. Eu não quero ver as suas declarações de amor, okay? Não preciso saber o que você faz ou deixa de fazer com seu namorado. É hipocrisia do mesmo modo! Por que não fala isso exclusivamente pra ele? Ou você namora o mundo e está fazendo uma declaração universal? Por favor, me avise na próxima, assim poderei dar os meus devidos agradecimentos.

domingo, 18 de novembro de 2012

Amigos

E, quando está com eles, você percebe que era isso que faltava. Conversar merda e rir alto sem se importar com a gargalhada ridícula ou com a dor no abdômen por causa do esforço; brincar de banco imobiliário e cara a cara sem indagar se não está velho demais para isto ou, quando o assunto acabar, ficar encarando-os para ver quem ri primeiro. Ah, amigos!
Só com eles você entende que presença é bem diferente de um telefonema ou de um bate-papo no facebook. E que uma risada ao vivo tem bem mais graça do que kkkkkk. Na verdade, a solidão mora ai, nessas parafernálias.
Ah, amigos!
Só experimentando você vai notar a diferença entre escrever um texto e desabafar, com todos os detalhes, até chorando se possível. Porque não há nada melhor do que ser consolado por alguém que realmente se importa.
Só sentindo na pele a diversão de pagar um mico em grupo que você vai entender que, mesmo quando tudo dá errado, faz-se certo. E que alegria também significa companheirismo.
E eles vão estar sempre aqui, presentes. E não vão te abandonar como aquele teu amor.

Dedicatória: Beatriz Cavalcante, Dandara Thaise, João Gabriel e Ariadynner 

sábado, 17 de novembro de 2012

Mas eu cresci

Eu não entendo isso. São apenas mudanças, lentas porém constantes, que de nada parecem servir. Exceto para complicar o mundo; a mim.
São elas que tiram a graça da boneca de porcelana, do livro fantasioso, da vida simples. E metem na cabeça absurdos que nunca serão realizados, senão cousa alguma. Restou-me o vazio!

Isto, somado ao meu perfeccionismo auto-orientado, a falta de um psicólogo, a auto-estima e a mais uma porção de coisas dispensáveis, gera somente o nada. Sim, um Nada insatisfatório, maçante e insolvente ao querer.
Veja como tudo seria mais simples: eu pegaria um romance, bem clichê, à lá Nicholas Sparks, mas com final feliz, me derreteria pelo cara perfeito — e, aliás, eu acreditaria em sua perfeição  , veria o mundo com outros olhos e teria uma esperança sem nexo na felicidade. Bem, eu seria uma iludida feliz. Feliz.
Mas eu cresci.
Gente, desculpa, não sei o que aconteceu mas a outra postagem acabou excluída! Infelizmente eu só pude copia-la novamente, peço minhas sinceras desculpas para quem comentou. 

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Reflexões sobre a Felicidade

Ontem ouvi alguém dizer que um simples bom-dia pode fazer milagres no ânimo das pessoas. Meti-me à pensar. Lembrei-me de todas as vezes em que estava desanimada e alguém veio me cumprimentar sorrindo; imediatamente sorri de volta e senti uma pitada de alegria.
Culpa desse meu reflexo absurdo que não consegue destratar o próprio Hitler se ele for gentil comigo. Brincadeiras à parte, cheguei a esta conclusão: eu só acho que educação requer educação, gentileza requer gentileza; este é um ciclo vicioso no qual não vejo problema algum.
Pena que nem todo mundo é assim. Tenho uma colega, por exemplo, que já foi uma grande amiga, mas a sua antipatia a isolou do mundo. Quase ninguém gosta dela e quem tenta se aproximar é recebido com arrogância e indiferença. Nem sempre é assim, é verdade; há uns dias milagrosos em que está de bom humor. Mas ela é a prova viva de que cumprimentos não funcionam com todo mundo.
A partir desse contraste, percebi que felicidade depende da disposição de cada um. No meu caso, alegria pega. É inegável que sou dramática, quem lê meus textos logo percebe, minha colega também o é. A nossa grande diferença é que não me deixo dominar por este defeito. Eu sei usá-lo à meu favor quando escrevo, no dia-a-dia tento ser tolerante.
Acho que isso vem dando certo, pois me considero uma pessoa feliz. Talvez a felicidade só venha para quem está de braços abertos para recebê-la, afinal, não há como passar através de uma porta trancada. Tampouco, não há como ser feliz quando se opta pela melancolia.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O fim da nossa história

Querido L.
Essa já é a terceira vez que inicio esta carta, mas ainda não sei como começar. Eu queria fazer jus ao passado, não fantasiá-lo e nem lhe tirar o mérito, apenas vê-lo como realmente era; com isso, me refiro a ti, meu passado.
Você foi o primeiro e, até agora, o único que verdadeiramente amei. Um amor tão grande, tão sincero, que jurava que seria eterno, todavia não foi. E fico contente por isso.
No entanto, eu te devo muito, senão tudo o que sou hoje. Através da dor eu me acheguei a escrita, percebi os meus defeitos e resolvi combatê-los. Peço-te mil desculpas por todas as vezes em que te xinguei... bem, talvez você tenha merecido.
Há  ou melhor, havia — apenas uma coisa que não entendia de modo algum: o fato de que você tenha superado algo que demorei anos para conseguir.  Tirava-me o sono saber que não foi amor, ao menos de ambos os lados. Acredito nisso, porém nunca aceitei.
Assim se iniciou minha jornada sem rumo e sem sentido. Eu procurava nos outros algo que pudesse me lembrar a ti, sejam os cabelos dourados ou o feitio metido. Esse ano, até encontrei alguém com as duas exigências, foi então que percebi que nunca poderia amá-lo porque, por mais que odeie admitir, você me marcou, foi único; estes sentimentos foram especiais ao ponto de ter a certeza de que nunca encontrarei outros idênticos.
Porém, nunca aceitei ter te perdido. Esse foi o propósito oculto dessa minha busca desenfreada: quis provar que era boa o bastante. Quis mostrar que sou especial. Agora eu finalmente sei.
Quando te vi dentro daquele carro, dirigindo-me um olhar curioso, observando-me com tanto afinco, pude fechar a ferida há tanto esquecida.  Percebi que fui tão importante quanto deveria ser, embora o seu orgulho não tenha permitido admitir isso. E eu me sinto muito grata por toda a história que vivemos, ela teve o melhor final possível porque me deu a chance de tentar novamente. Dessa vez para acertar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Reflexões sobre Razão e Sensibilidade

Livros sempre me induzem à reflexões. Principalmente quando se trata da minha querida Jane Austen. E, enquanto lia Razão e Sensibilidade, passei a ver uma critica fortíssima à mim mesma. Eu me vi nos defeitos de Elinor e Marianne.
A começar com Marianne, a "sensibilidade". Ela é uma jovem de dezesseis anos, apaixonada pelas artes e exigente em relação ao amor. Apesar de ser nova, crê-se madura e de opiniões corretas; é teimosa, de imaginação fértil e se entrega totalmente as suas emoções. E eu tenho um pouco disso, eu sou de moldar o meu par perfeito e, quando encontro alguém que se encaixe na maioria das exigências, dou asas a minha imaginação e, em seguida, passo a acreditar em um belo final feliz.
Evidentemente, isso só me causou decepções. Com o tempo, passei a dar valor aos defeitos, à procurá-los, à gostar deles. Eu já não acredito em pessoas perfeitas, e não confio naquelas que aparentam ser, embora continue com algumas exigências. Infelizmente, exigências até com os defeitos.
Uma das passagens mais criticas do livro é quando Marianne quase definha por causa da sua desilusão amorosa; sou, de certo modo, assim. Eu me entrego de corpo e alma as minhas emoções, mas em segredo, como Elinor. Tal reflexão me lembrou de uma frase da Natália Klein: "eu seria uma suicida nata se não fosse o meu egocentrismo exacerbado. Eu sou boa demais para morrer, seria um desperdício."
O que me traz a Elinor, a "razão". Ela é uma jovem de dezenove anos que, por ter mais juízo que o resto da sua família, se vê obrigada a resolver todos os seus problemas e a "carregar o mundo" sobre os seus ombros. Ela procura sempre a lógica em tudo, supondo que isso apaziguaria todas as suas emoções.
Eu, por ser a filha mais velha, sempre tive responsabilidades e me vejo na obrigação de ser madura para poder cumpri-las. Tento ser adulta antes do tempo, me forço a ser um bom exemplo, como Elinor. Isso te impede de aproveitar as etapas da vida, no caso dela, o amor e a desilusão porque tinha uma Marianne deprimida. Ela teve de trancar tudo dentro de si para não deixar a família mais preocupada, tendo como único refúgio a razão, que lhe sustenta.
Com este livro, acho que Austen quis passar isto: você não deve ser nenhum extremo, tudo em exagero é ruim. Você deve ser racional, mas têm de se permitir sentir; deve ter exigências quanto ao caráter e não segundo os seus preconceitos; ter emoções, mas não se deixar guiar por elas. Em suma, um equilíbrio entre razão e sensibilidade.

sábado, 13 de outubro de 2012

O respeito e a igualdade, sobretudo a educação

Odeio esse complexo de superioridade. Se pudesse escolher, preferiria ter ao meu lado alguém que crê-se inferior e de baixa auto-estima do que pessoas que não sabem o que é uma "critica". E o pior é que tenho uma amiga assim. Ela é aquele tipo de gente que, se você lhe mostra algo diferente do qual gosta, diz que não é tão bom enquanto te olha com um misto de arrogância e indiferença. O que é extremamente irritante.
Eu posso estar sendo infantil, mas o fato de que tal comportamento foi repetido inúmeras vezes deve me dar o direito de tirar esta conclusão: ela se acha superior a qualquer pessoa que seja diferente demais dela.  E como o mundo é um conjunto de pessoas distintas, suponho que "X" — por assim dizer — crê-se a Rainha da Terra ou do Bom Gosto.
Okay, e quem sou eu para julgar? Devo estar me esquecendo do meu preconceito musical, de como fuzilo pelo olhar pessoas que escutam forró e sertanejo estilizado perto de mim e, principalmente, funk — porque, afinal, uma pessoa dessas não pode ser decente escutando e cantando músicas tão vulgares. Mas onde entra o respeito?
A nossa sociedade é formada por gente de etnias, crenças e "criações" — refiro-me a educação recebida em casa — diferentes. Mas todas, sem exceção, merecem respeito. E respeito implica dar o mesmo tratamento que você daria a alguém que considera seu igual ou, no caso, que possua a mesma opinião que a tua.
Voltando a "X", digo: e uma pessoa que gosta da música de caras que dançam como garotas, de vozes afeminas e finas, no ritmo eletrônico e, para completar, em japonês, definitivamente não tem bom gosto. Nem por isso eu a olhei de modo arrogante e com ar superior enquanto dizia "eu não gostei". Também não fiz isso quando me mostrava páginas na internet que gostava, feitas por pessoas absolutamente normais, cujos textos eram absolutamente dramáticos. Eu continuei prestando a máxima atenção no que dizia, sendo simpática e amigável, apesar de estar nítido que não estava achando tão bom assim. E ponto. Isso não machuca coisa alguma, não fere os sentimentos de ninguém.
Isso é o que se chama de educação.