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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A flor

   Ele tossiu ao dar a primeira tragada. Curvou-se sobre si, dramatizando a sua própria humilhação. Droga, pensou, não sirvo nem pra fumar. E atirou ao chão aquele objeto que tanto arquitetara para furtar. Imaginou, outrora, vê-la saindo de um lugar qualquer, a cara emburrada, o peito pesando uma tonelada, a descoberta de um engano em mente. Terrível engano. E a primeira coisa que seus doces olhos focariam seria ele. Indiferente. Distante. Inalcançável. 
   Mas ela saiu da lojinha de quinquilharias com um sorriso. E ele nem cigarro tinha pra fazer pose. Fez um rodopio para seu espectador, seu vestido listrado brincando de bailarina. Rindo-se às gargalhadas por se dar ao direito de ser criança apesar de grande, só não tão grande assim. Seus olhos o encontraram, deu-lhe seu aceno teatral. Tudo o que ele já conhecia tão bem. Os dentes um tanto afastados não a intimidavam, era feliz sem importar-se com aparelhos. E no rosto sempre alguma pequena espinha vermelha marcando presença, nada que a fizesse esconder-se detrás d’alguma maquiagem, nada de esconder-se detrás de alguma máscara. Era tão absurdamente ela. E isso a fazia ser tão intrinsecamente nele.
   Veja bem, não dele.
   O dono dos seus sorrisos e rodopios estava logo ali. Embora não merecesse. Comprara uma caixinha de joias barata, com desenhos de copos-de-leite. Não sabia nem a sua flor favorita, porém a ganhara com uma flor. E ela se achega ao outro, pendendo levemente a cabeça para o lado, como se para captá-lo melhor. Nenhum sentimento de culpa, nada de descobertas revolucionárias, apenas ele, ela e o outro. Apenas frustração separada por paixão e paixão. Afastando-se a passos lentos, para importuná-lo ainda mais. Maldito vento, também, carregando-lhe a risada. 
   Carregando-lhe fragmentos de sua voz, inocentes exclamações. A flor, minha flor, a flor do outro. Já adquirira um significado tão intimo para ambos, embora fosse tão mais dele. Ele, que a observara primeiro, esquadrinhara-a com tanto afinco. Lutara para ser seu grande amigo, o único digno de ter visto a lágrima teimosa escorrer brevemente. Em cuja pele desenhava por diversão. 
   Agora, no entanto, ia na direção oposta, pisando num cigarro inútil. Tentando se encontrar sem vê-la dentro dele, tão mesclados estavam ambos. Torcendo para que o outro não se habitue a vivacidade que tanto o fascinava, torcendo para que ela nunca parasse de sorrir. Seguindo o caminho tanto antes retratado, mas que nunca pareceu ser dele. Absorto na pergunta cuja resposta não queria ouvir. Porque as pessoas só veem o que querem ver.

Minha flor serviu pra que você achasse alguém, um outro alguém
Que me tomou o seu amor
E eu fiz de tudo pra você perceber
Que era eu
Los Hermanos

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Chant des Partisans

    Sobrevivência. Estou fugindo há quanto tempo?
    Eles invadiram a minha casa, destruíram tudo. Levaram tudo. A expressão mórbida da minha mulher, a vida dos meus filhos escorrendo junto com seu sangue. Eu só pude assisti-los morrer  lentamente, antes de fugir com os poucos amigos que me sobraram.
    Por que vocês só pensam em pedaços de terra ao iniciar uma guerra? Tantas, tantas vidas se foram. Sonhos de uma nação inteira desvaneceram. Sobrevivência, é só isso que importa agora.
    Uma senhora nos acolheu como uma mãe paciente e cuidadosa, mas nossos corações estavam feridos demais para valorizar o seu amor. Até que os alemães invadiram a sua casa, e ela morreu com uma expressão calma no rosto.
    Eu mudei meu nome uma centena de vezes, porém continuo sendo um partidário lutando pelos seus ideais. Almejando a fronteira, a liberdade. Essa chama me mantém vivo.
    Esta manhã haviam três de nós. Já é tarde, vejo o crepúsculo ao lado de dois corpos  inteiramente só. Eis o enterro, essa canção muda, Chant des Partisans. Um dia eles ainda vão pagar por isso.

Oh, o vento, o vento está soprando
através dos túmulos ele está soprando,
a liberdade breve virá;
então nós viremos das sombras.
Noir Désir

sábado, 1 de dezembro de 2012

Aishiteru

    Eliana estava sentada em frente à sua casa, observando o vazio. Sua mente ia ao encontro dele, embora ela tentasse incessantemente esquecê-lo. Afinal, quando não é pra ser, acaba.
    No entanto, as suas memórias a mergulhavam em devaneios e a saudade parecia lhe tirar as forças. Um simples nome bagunçava toda a sua cabeça, uma lembrança feliz cortava mais que um punhal. Ela se sentia impotente diante dos seus próprios sentimentos.
    Eles poderiam dar certo, então por que tudo o que restou foi saudade? Carlos era tudo o que ela queria, mesmo que detestasse o seu jeito moleque, as músicas que ouvia e aquele tique-nervoso esquisito que tinha que o fazia piscar os olhos rápido demais quando tomava algo gelado. Aliás, ela também não gostava das suas manias de nerd.
    Mas Eliana gostava da presença dele, por mais que tê-lo por perto muitas vezes resultasse em brincadeiras sem-graça. Era reconfortante. Até quando ela escutava Tom Jobim e ele reclamava do seu gosto musical. Ele era ele; único. O cara que detestou  aquela camisa xadrez que Eliana lhe deu, mas fingiu amar por causa dela.
    Eles poderiam dar certo. O que faltava era encontrar os famosos meio-termos; aqueles gostos em comum, o ato de ceder de vez em quando.
    E, enquanto se dava conta disso, as lágrimas rolavam livres pelo seu rosto. Eliana rapidamente entrou em casa e agradeceu por estar só naquele momento de tamanha dor. Por isso, não atendeu a porta mesmo com a campainha tocando com insistência. Ela simplesmente não podia, não suportava, tinha de por um pouco de dor pra fora.
    Porém, quando já calma, foi até a porta de casa, sem saber exatamente por quê. Talvez esperasse ver quem havia vindo, mesmo não tendo atendido. Podia ser importante. E ela poderia dar uma desculpa qualquer. Mas o que encontrou foi um pequeno papel, daqueles blocos de anotação, jogado pelo vão da porta. Imediatamente reconheceu a caligrafia e logo entendeu o significado da palavra ali escrita, àquela que aprendeu ao longo de três meses de convivência. Aishiteru eu te amo.
"Você acha que formamos um bom par?" foi o que perguntei ao céu.
Kourin

domingo, 29 de julho de 2012

Adeus você

Hoje eu arrumei minhas malas, hoje decidi seguir em frente. Não veja como um abandono, por favor meu bem, estou apenas fazendo escolhas. Escolhas que acho corretas.
Sinto muito pelas fotos e retratos, eu tive que tirá-lo de mim e joga-los no passado de alguma forma, essa foi a única que encontrei.
Eu rasguei várias fotos, inclusive àquelas que lhe pertenciam, simplesmente por pensar que isto ajudaria a esquecer. Mas como se esquece de amar?
Lembra do que vivia dizendo? "Nada dura para sempre". De modo algum foi um aviso do que estava por vir, eu mesma não imaginava que algo assim viria a acontecer, havia dito isto tentando ser mais realista, queria ser sincera contigo e, principalmente, comigo mesma.
No entanto, meu bem, posso prometer que as minhas lembranças irão durar, irão durar para sempre enquanto eu viver. Porque é impossível esquecer de uma época em que fui tão feliz.
Oh, querido, chegou a hora de crescer, de seguir em frente e de, infelizmente, fazer do nós uma simples recordação.

Adeus você
Eu hoje vou pro lado de lá.
Eu tô levando tudo de mim que é pra não ter razão pra chorar.
Vê se te alimenta e não pensa que eu fui por não te amar.
Cuida do teu pra que ninguém te jogue no chão.
Procure dividir-se em alguém, procure-me em qualquer confusão.
Levanta e te sustenta e não pensa que eu fui por não te amar.
Los Hermanos

segunda-feira, 9 de julho de 2012

La Llorona

Ô, pequena, o que há contigo? Não vês que está um lindo dia lá fora, para quê ficar neste canto escuro, frio, do teu quarto?
 Eu sei que este é teu refúgio, teu consolo, mas não vês que já não te faz tão bem? Abra os olhos e erga-os além do horizonte, enxergue através do óbvio, veja com teu coração, com tua imaginação, e encontrarás a simples e pura felicidade. Ganharás um carinho nesta tua alma aflita, se tentares.
 Por mais que tudo parece vão, inútil, se agarre na esperança de um dia melhor, busque, através do esforço é que se alcança a vitória.
 Veja bem, meu bem, ficar chorando pelos cantos não vai mudar nada, nem compaixão espere receber dos outros com isto, pois vivemos em um mundo selvagem onde os mais fortes sobrevivem, e os outros... ah, aqueles anjos inocentes e dóceis, são jogados à mercê da sorte.
 Entenda. Ele te deixou? Procure outro que verdadeiramente te ame. Não conseguiu o que queria? Não desista, ter fé é o primeiro passo até a vitória. Se sente inútil? Logo vais descobrir teu real valor. Ainda está doendo? A dor está te ensinando a sobreviver. Destruiram os teus sonhos? Contrate a teimosia para reconstrui-los.

E tudo leva à queda.
Se você não anda, 
poderia muito bem rastejar.
Zach Condon/Orquestra Beirut

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Sobre a solidão

Todo mundo, pelo menos uma vez na vida, teve de lidar com a solidão, querendo ou não, é assim. Esta é uma etapa da vida, faz parte do "crescer e amadurecer".
Não estou dizendo que é algo desejável, estou apenas mostrando que é necessário. é com este sentimento incomodável de estar só no mundo que somos forçados a aprender a confiar em nós mesmos, a viver por conta própria, a se apoiar em si mesmo e entender que você é a única pessoa que realmente se importa com você. Na escola da vida, esta é uma lição preciosa.
Então, se as pessoas estão te abandonando, não faça questão, pois o que é seu sempre volta e o que se foi, na verdade, sempre foi uma farsa, nunca lhe pertenceu.
Se você se sente inútil, saiba que isso é normal, é nessa etapa da vida que a gente descobre o nosso valor, tenha paciência. Tenha fé.
E se está pensando em desistir da vida, saiba que isso é tolice. Se você veio ao mundo foi para ser útil, não importa o que os outros digam, porque Deus não faz porcaria. Persevere, escolha fazer a diferença.

Se você ficar sozinho
Pega a solidão
E Dança
Marcelo Camelo