"Cuide-se criança", ela me disse. Uma criança é o que sou, se comparado a ela. Mas os anos nunca foram um grande empecilho diante do nosso amor. Diante do meu amor, ao menos. Lembro-me do primeiro toque, da primeira demonstração de afeto que houve entre nós, há tanto tempo atrás...Todas as tardes, saia do colégio as pressas para encontrá-la. Sentava-me em sua cama, onde estava a minha espera. Despida de tudo e qualquer coisa que pudesse afastar-nos. Eu acariciava a pele de sua face, beijava-lhe a testa, os lábios. Beijava cada centímetro de pele exposta. Sorria para ela, que por sua vez, apenas fitava-me como quem não sabe o que dizer, o que pensar. Uma vez, perguntei-a se me amava. Movimentando levemente a cabeça, murmurava um sim receoso, preocupado. Sim, preocupada com o que éramos, com a forma que seríamos vistos diante da sociedade conservadora de 1958. Mas não parecíamos errados, não éramos.
Certa vez, Hanna me perguntou o que estava estudando no colégio. Falei que aprendia latim, grego e que estava estudando uma peça chamada Emillia Galotti. "Leia para mim", pediu. Estranhei, mas não hesitei. "Primeiro ato, cena um", comecei, "O príncipe: Reclamações, nada além de reclamações. Pelo amor de Deus! Existe algo na vida que valha a pena?" Continuei lendo por um bom tempo e ela me interrompeu apenas uma vez, para sussurrar: é lindo! E sorri, porque estava certo dos meus sentimentos, porque era o rapaz mais feliz de toda a Alemanha. Por dias fui ao seu encontro e apenas ficávamos ali, deitados. Eu lendo para ela, nós nos amando.
Costumava ajuda em tarefas domésticas, mas ficava por isso mesmo. Até que um dia, resolvi mudar o curso das coisas. Quis gritar para o mundo que eu a pertencia e ela, a mim. Então, fomos passear de bicicleta. Nossas gargalhadas enchiam o ar a nossa volta. Uma situação curiosa nos ocorreu, inclusive. Durante a pausa para o almoço, uma senhora parou para comentar o quanto Hanna era bonita, referindo-se a ela como minha mãe. Tossi, abafando o riso. Espantoso imaginá-la como sendo minha mãe, pensei. Não disse nada, apenas encostei meus lábios nos dela suavemente, para dar ênfase nos laços que nos uniam.
Engana-se quem pensa que nossa relação era perfeita, pois não era. Discutíamos, basicamente, sobre nós. Nunca cheguei a questionar-me o que éramos, não naquela época. No entanto, Hanna o fazia frequentemente. Tinha dúvidas somente quando se tratava do futuro, do que aconteceria conosco como passar do tempo. E foi aí que ela decidiu por si só o rumo da nossa relação...Ou o fim dela. Um dia, cheguei em sua casa e restavam apenas os móveis. Roupas e outros objetos pessoais não estavam lá. "Era o fim", pensei, "o fim!". Arrasado, deitei-me na cama que por tão pouco tempo nos amamos. Passei noites ali, lembrando de cada momento nosso, cada toque, o riso, a voz, o cheiro. Agarrei-me a cada fiapo do nosso amor, os fiapos que ainda estavam por ali e que era meus por direito. Cada pedaço meu havia sido levado por aquela mulher. Cada lembrança dela estaria para sempre em meu coração. Eu, Michael, tomei uma das piores decisões. Decidi amá-la mesmo depois do seu último suspiro.
Thay Oliveira
Olá gente, boa noite! Esse é o meu primeiro post no Florescer e Palavrear, então espero que vocês gostem.Confesso que é diferente do que costumo escrever, mas achei uma boa ideia postá-lo. Fiz o conto tendo como base um filme chamado "O Leitor". Michael é um adolescente de 15 anos que acaba se envolvendo com uma mulher 21 anos mais velha. Tentei passar a imagem de que Michael é mais velho, maduro, porque é essa a impressão que tive. Talvez você, que acabou de ler isso, está pensando em como relatei de forma rápida. É proposital, sabe? Esse "romance" foi assim mesmo, bastante rápido. Alguns detalhes fazem juz ao filme, na verdade, boa parte dele. Só fiz organizar rsrsrs. Bom, engana-se quem pensa que tudo gira em torno do amor existente entre eles, não é bem assim. Sendo que esse início me tocou bastante, sabe? Não sei se meu conceito de amor é torto, mas achei tudo belíssimo. Hanna se torna um guarda numa rede de campos de concentração em Auschwitz, Polônia e Michael, um grande advogado. Preciso acrescentar que ele faz por ela algo tão lindo quanto posso descrever? Na verdade, tudo aconteceu diferente do que eu imaginava, é realmente surpreendente. O filme me fez pensar em certos valores que a sociedade nos impõe e no que leva pessoas a cometerem certos crimes. Será que falamos muito para o pouco que observamos? Ok, essa sou eu falando demais hahaha não me controlei, me perdoem. Logo mais irei postar uma crítica sobre o filme. Da pra ver que eu estou empolgada, não é? hahah . Espero que vocês se interessem tanto pelo filme, quanto pelo livro. São impressionantes, acreditem.
Ah, peço desculpas se a qualidade das imagens(e da montagem) é péssima, mas foi tudo o que eu consegui,rs.