sábado, 7 de setembro de 2013

A vida que ninguém vê

Título: A vida que Ninguém vê
Autora: Eliane Brum
Editora: Arquipélago Editorial
Páginas: 205

   Antes de tudo, devo dizer que esse livro é jornalistico.
   Porém, ao contrário do que nos habituamos a ver, como a catástrofe de Santa Maria, o terrorismo de 11 de setembro e a guerra na Síria, ele fala de pessoas que você provavelmente não conhece, como o menino do morro que já não pode andar, o carregador de malas do aeroporto que nunca voou, um homem que guardava o lixo a história de toda uma cidade e um macaco que fugiu da jaula e foi tomar uma no bar, e pessoas que você infelizmente já não poderá conhecer, como a menina que pedia esmola aos  carros e que morreu atropelada.
   Eliane se propõe a mostrar o jornalismo esquecido. A extraordinária vida ordinária, ou a vida ordinária extraordinária que, ao fim, a gente descobre que também é a de cada um.
Vemos o que todos veem e vemos o que nos programam para ver. Era, com toda pretensão que a vida merece, uma proposta de insurgência. Porque nada é mais transformador do que nos percebermos extraordinários - e não ordinários como toda a miopia do mundo nos leva a crer. Pág 188

    Esse livro tem uma proposta espantosa. O título, em si, já tem essa afirmação, um pouco de crítica também a todos. A vida que ninguém vê foi finalmente vista, e agora é mais importante que a sua. Todas as pessoas que usualmente ignoramos por comodidade viraram protagonistas que exigem a sua fixa atenção, como Antonio e o seu enterro de pobre, em que seu pequeno filho, que nem teve a chance de viver, foi enterrado numa cova rasa que não era sua; como o menino que é considerado louco por não desistir dessa fantasia que permeia a infância, que no seu caso significa um amor incondicional por cavalos,  até internado em manicômio já foi. São meras histórias que não tivemos sensibilidade o bastante para entender. Mas Eliane veio nos ajudar com isso.
Há duas maneiras de se visitar um zoológico: com ou sem inocência. A primeira é a mais fácil. E a única com satisfação garantida. A outra pode ser uma jornada sombria para dentro do espelho. Sem glamour e também sem volta.
Acompanhe, se quiser. Pág 54
  Mas talvez o que mais espante é o desafio dele. Como você enxerga o mundo?
Olhar é um ato de silêncio. Pág 191
Tudo o que somos de melhor é resultado do espanto. Pág 193 
 Eva rebelou-se. Decidiu que não seria coitada. [...] Que o mundo achasse outras vítimas para preencher seu horror. Esse foi o crime de Eva. Pelo qual jamais a perdoaram. Como não puderam lhe imprimir na testa o rótulo de coitada, a marcaram com outro. Como ela, a deformada, como ela, a deficiente, como ela, a defeituosa, ousava renegar a mão da caridade, irmã da pena, prima da hipocrisia? Como ousava ela, a anormal, encarar de igual para igual os normais? Parecia até que a exibição do corpo torto de Eva revelava a alma torta do outro. Pág 98
   Esse livro é simplesmente fabuloso. Além de ser um tapa na nossa cara. Eu nem sei direito como me expressar com argumentos coerentes por que esse livro é tão... mágico assim. Por isso essa resenha está te pedindo mais interpretação própria do que dando respostas. E eu separei um monte de quotes que adoraria colocar aqui, mas o post já está grande, e eu ficando meio perturbada ao ser invadida por tudo o que vi nesse livro.
   Eu nem sei qual crônica foi a que considerei melhor. Sem dúvida o macaco que teve uma atitude humana [história verídica] foi uma critica e tanto; o homem que guardava a história de sua cidade foi de encontro a minha mania de jogar tudo de velho fora - claro que guardo coisas que são emocionalmente importante pra mim -, claro que o Homem de Aço [vulgo, o homem que comia vidro na praça para ganhar alguns trocados] sofreu com a invisibilidade, assim como todos nós. Eliane Brum muito provavelmente nos trouxe um pouco da essência humana nesse livro.
   A revelação dessa visita subversiva ao zoológico é que, no cativeiro, os animais se humanizam. O cárcere lhes arrancam a vida, o desejo e a busca. E mais e mais vão se parecendo com os homens que os procuram com a certeza de um álibi. Perigosa é a pergunta.
   O que aconteceria se você encontrasse a chave do cadeado invisível da sua vida? O que aconteceria se você saltasse sobre o fosso da sua rotina? O que aconteceria se você desse o passo da elefanta?
   Bem, talvez seja melhor caminhar até o balcão e beber uma. Pág 56 e 57.
Espero que tenham gostado, apesar do tamanho da resenha.
XOXO
Samyle S. 

14 comentários:

  1. Legal!
    Parece ser muito bom o livro! Já vi vários comentários positivos sobre ele!
    Muito bom o seu blog! Adorei e já estou seguindo.
    Te convido pra visitar o meu cantinho!
    Beijos e até mais.

    http://entreasppas1.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que legal! Nunca o vejo sendo comentado pelos blogs que sigo, por isso estanhei um pouco. Mas boa como Eliane Brum é, é bem lógico que seja comentado, sério, eu amo esse livro *.*

      Excluir
  2. realmente muito interessante, sempre deixamos mtas coisas de lado as vezes se importando com coisas fúteis.. e pior ainda reclamamos da vida maravilhosas que vivemos, esquecendo de tudo que esta escondido.. realmente esse livro faz pensar em mtas coisas. e vc até para de reclamar da tua vida..
    adoreei a resenha e o seu blog tbm.
    beijãão
    ja curti e estou te seguindoo.

    http://chooreiglitter.blogspot.com.br/
    page do blog *-*
    https://www.facebook.com/chooreiglitter

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, a nossa geração tem uma cabeça meio vazia, quer dizer, estamos tão voltados ao indivíduo, almejando coisas fúteis como o celular mais top e as roupas de marca, quando tem tanta gente aí pedindo um pouco da nossa atenção. Não falo necessariamente em mendigos ou africanos famintos, é algo muito maior e banalizado.

      Excluir
  3. Pela sua resenha acho que não leria, ou demoraria muito tempo pra ler esse. ><

    http://nahboaoi.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Entendo que pode não ser seu gosto. Eu, por exemplo, tenho pavor a Nicholas Sparks e ao que eu e Thay apelidamos carinhosamente - na verdade, ela, eu só peguei a expressão - de literatura babada. Vai de cada um, por mais que eu ainda não consiga entender como pode haver seres humanos que não gostem de Eliane Brum e Dom Casmurro. Mas um dia eu supero isso. Estou me esforçando para aceitar mais o gosto dos outros, a gente sempre tem a mania de achar que o nosso gosto é sempre o melhor, não é?

      Excluir
  4. Parece ser bastante interessante. Adorei a resenha!
    Beijos

    http://featglam.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  5. Indo adicionar o livro no skoob em 3... 2... 1...

    Li três linhas da sua resenha e sabia que tinha que ler esse livro. É o tipo de história que eu gosto. Algumas pessoas acham estranho, mas eu tenho a "mania" de pensar na história por trás das pessoas. Até mesmo daquelas que morreram, fico pensando no que passava na cabeça daquela pessoa, o que ela viveu, pensou... Até mesmo em filmes, novelas, quando morre um figurante, fico pensando: e a familia do cara? como eles iam ficar agora? sei que é ficção (no caso dos filmes/novelas) mas porque um personagem tem que ficar no anonimato?

    Adorei sua resenha! Vou ver se leio esse livro sim ^^

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu sei como é! Mas talvez os próprios autores tenham feito isso de propósito (exceto no romantismo e nessas estórias de sessão da tarde). Eu admiro muito Machado de Assis por nos ter dado a chance da dúvida. Eu, particularmente, não quero deixar nada muito claro, amo essa emoção de Dom Casmurro, por isso também amo A menina que não sabia ler. Eu gosto da chance de fazer uma estória ao meu gosto, achar minhas próprias respostas. E é isso que esses livros me proporcionam.

      Excluir
    2. Os melhores livros sempre são aqueles que a gente faz a história. A menina que não sabia ler é assim? Vou ver se leio ele então :)

      Excluir
    3. É sim, o autor te dá pistas, mas não responde nada, praticamente. Deixou muitas pontas soltas para o leitor. Por isso tem muita gente que detestou o livro, reclamando que precisa de uma continuação urgentemente. Eu gosto dele,li-o ano passado e está nos meus favoritos, por isso te indico. Espero que goste ;)

      Excluir
  6. Oi querida, lindo post, adorei!
    Tenha uma linda semana, beijos!!!

    ResponderExcluir
  7. Sabe o que? Vou pedir esse livro de presente de aniversário. Fiquei encantada pelos quotes e pela tua resenha um tanto que sem palavras(se é que você me entende). Quando temos a sensação de que nada vai ser bom o suficiente para indicar o livro- a leitura é indispensável. Espero não ter me expressado mal.
    http://menina-do-sol.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  8. Não faz meu estilo de leitura, mas parece legal.

    www.iasmincruz.com

    ResponderExcluir