segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Divergência - Parte IV

Vejas as partes I, II, III também.

Rio de Janeiro, 1925

- Eu não choraria tanto se o senhor não insistisse em tirar o pouco de paz que me resta - respondeu.
- Não é meu desejo que a senhorita chore, eu só quero uma explicação e juro que não lhe perturbo mais com minha presença - ele falou, um tanto exasperado, como se estivesse se contendo para não demonstrar a sua indignação. Ora, era ela que estava indignada!
- O que quer saber, Sr. Martins?
- Por que esta se casando com quem não ama? Não negue, eu vejo a repulsa no seu olhar quando encontra o dele.
Com isso Alice se levantou e, com sua postura autoritária, o olhou como seu igual o que, naquela época, era extremamente inaceitável e recuperando sua grosseria, falou:
- Antes responda-me: por que não cumpriu sua promessa? Por que me deixou esperando todo esse tempo? É tão divertido assim me iludir? Ora, eu nem deveria lhe responder, por acaso você é algo da minha família? Não! Não passa de um primo distante do meu noivo, nada mais! Você não passa de um mentiroso, sem caráter e mulherengo, igual à Afonso, eu já nem sei porque me encantei, depois de tanto tempo eu já deveria ter notado a sua farsa.

- Alice! Não me insulte me igualando ao meu primo! Não, não sou nada da sua família, mas tenho mais caráter do que uma mulher que sequer respondeu todas as minhas cartas, me ignorou completamente, e agora vem se fazer de inocente me culpando. Ora, a verdade dói, não? - falou, ao vê-la perplexa. - Eu sempre me mantive fiel, sempre a procurei, mas infelizmente não tive como ir buscar-lhe, tenho negócios aqui que logo estariam finalizados, mas vejo que um certo alguém já não precisa, ou sequer sente algo relacionado a minha pessoa. Quem foi iludido, Alice? Você?! Óbvio que não, me sinto frustrado ao perceber toda a verdade.
O sr. Martins se virou, estava vermelho de ira, e Alice já não soube direito o que fazer, em quem confiar, estava frustrada com todas as revelações feitas, frustrada em estar sendo culpada por algo que não fez e por estar sendo posta como vilã quando era inocente quanto ao assunto. Ele começou a se afastar, provavelmente nunca mais o veria, nunca saberia as respostas para as suas milhares de perguntas... Então, ela correu. Foi ao encontro daquele que sempre amou, daquele que culpou, daquele que a feriu, mas dessa vez ela faria algo, não ficaria esperando sentada pela sorte que nunca cairia do céu.
- Timóteo! Por favor, espere - ele parou, com um longo suspiro. - Há divergências em nossas histórias, juro que nunca recebi uma única carta sua, nunca tive noticias tuas, exceto as do seu primo falando que estava prestes a se casar por dinheiro, e nada mais.
- Eu juro que tentei ir buscar-lhe, mas as circunstancias não me permitiram. Ouça, naquela noite meu pai faleceu deixando várias dividas e ,como sabe, é meu dever quita-las, então, me mudei para a capital e arranjei um emprego e, com isso, pude cursar minha faculdade enquanto juntava dinheiro para lhe pagar um dote justo. Eu lhe mandei várias cartas ao longo do ano, mas nunca recebi resposta, e agora posso até entender o porquê.
- Eu não o amo, Timóteo. Como você mesmo disse, a única coisa que sinto é repulsa, estou me casando por livre e espontânea pressão. Tudo graças a minha mãe que me quer ver rica.
Alice explicou todos os problemas financeiro de sua família e as discussões com sua mãe do modo mais resumido possível, torcendo para que ele entendesse apesar de seus soluços.
-Sua mãe está muito enganada se acha que casando-a com Afonso vai torna-la rica. Já ouviu falar da crise do café, minha senhora? Bem, está realmente horrível, creio que os Montês não vão suporta-la - depois de um breve silencio, continuou. - E o que a senhorita acha que posso fazer para ajuda-la?
Tal pergunta a surpreendeu, qual era o homem que em pleno século XIX fazia uma pergunta dessas a uma simples jovem? Uma simples mulher?
- O senhor me ama?- ela perguntou de volta.
-S-sim - gaguejou.
- Me ama a tal ponto que se casaria comigo?
- Hoje mesmo, se possível.
- Então vá até a casa onde estou hospedada e peça para falar com o Sr. Ventura e explique nossa situação. Espero que meu pai nos ajude. Agora tenho que ir.
Se despediram e Alice voltou ao baile.
***
Estava uma manha belíssima, Alice estava num sono profundo até ser acordada por uma algazarra, chamou uma criada e perguntou o motivo de todo aquele barulho e ela lhe disse:
-Um senhorzinho veio falar com seu pai, parece que pediu a mão da V. S.

6 comentários:

  1. Own, fofo! Adorei, mesmo, mesmo. Lindo conto.
    Já estou seguindo o blog, viu?
    Beijinhos

    www.hiperbolismos.blogspot.com

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    1. Obrigada, pequena. Fico muito alegre em saber que apreciou a leitura. Volte sempre!

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  2. Gosto muito do que tu escreve, Samyle! E gostei da escolha da foto pra ilustrar o texto, haha. Nem sou a maior fã de Pride and Prejudice, mas a Keira tá tão linda nessa imagem. =)

    :*

    http://hey-london.net

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    1. Ah, amo Orgulho e Preconceito, esta foto é tãao fofa, eu não resisti!
      Sério?! Nossa, quando as pessoas me dizem que gostam tanto do que vivo escrevendo, me sinto tão lisonjeada, obrigada Milla, isto mostra que vale a pena!

      Bjin*

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  3. A cada parte a história fica mais interessante =D
    she-for-she.blogspot.com

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    1. Que ótimo, era justamente o que queria!
      Obrigada pela visita, pequena, e volte sempre.

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