sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Divergência - Parte III


Veja as partes I e II.

Rio de Janeiro, Outubro de 1925

Suspiros. Mais e mais suspiros desanimados. Era apenas o que Alice fazia ao olhar o seu reflexo na parede pois enquanto todo mundo só via uma mulher belíssima, a mais bela da região, ela via uma pessoa extremamente infeliz. E azarada. Nada mais que isso.
Foi então que percebeu batidas repetidas em sua janela, às vezes fortes e outras vezes leves. Ela era o tipo de pessoa curiosa, viva, apesar dos últimos tempos, e graças a sua curiosidade, a sua alma de menina, foi ver o que era. Abriu lentamente a janela como se estivesse se dando uma chance para desistir, o que não fez ,e olhando para baixo encontrou o Sr. Martins pronto para mandar outra pedrinha.

- Olá - ele disse. Alice não respondeu.
- Você vai realmente se casar?- foi direto ao ponto. A moça, recuperando-se do choque de vê-lo uma segunda vez, falou:
- E o que você tem a ver com isso?
Fechou a janela  de súbito, com mais força do que era necessária, parecia que a raiva havia se instalado de vez em seu ser, bastava um estimulo pequeno para uma grande explosão. Alice se dirigiu, com pés firmes, à escada e ao térreo, onde encontrou sua mãe, com mais um dos seus sorriso gigantes e bobos no rosto, o que era comum desde que ela tinha dito que iria se casar.
-Vamos minha querida?
Ela assentiu com a cabeça, De mal-humor, com o seu temperamento agora explosivo, e um auto-controle, no mínimo, incrível. As duas foram para a carruagem que os levaria à um baile, ali Alice seria apresentada a toda a família Montês e, apesar de todas as suas súplicas mentais, a carruagem não quebrou e nada do gênero ocorreu que a impedisse de chegar.
Alice entrou na casa, sem dar muita atenção a sua grandiosidade, afinal, não conseguimos aproveitar bem algo que é do nosso agrado quando estamos sendo pressionados por um grande problema.Na entrada, foi cumprimentada por todos e, durante a festa, até dançou com Afonso algumas vezes, o que definitivamente era um avanço. Por fim, cansada da vida e de suas desventuras, quis fugir dali. Sim, era impossível, e não foi a primeira vez que teve esta ideia tão ousada e, certamente, não teria o que fazer depois da fuga, consequentemente, voltaria de qualquer modo. Não, agora a fuga que queria, àquele que neste instante tanto almejava, era curta, mas prazerosa. Ela só queria fugir da realidade, pensar em besteiras durante um devaneio, e esquecer, mesmo que por um breve momento, a sua vida, a sua condição. E sorrir.
Por estar tão focada neste pensamento, como se pudesse sentir o gosto dos seus desejos ou entrando em algum transe, uma mulher lhe perguntou:
- Está tudo bem minha querida? Você não me parece bem srta. Alice, está com dor de cabeça? Está se sentindo mal?
A compreensão clareou a sua visão. Esta era a desculpa perfeita para fugir dali. Fingindo um mal estar, foi dar um passeio, sozinha, na praça ao lado. Procurou o local mais escondido, mais silencioso, para sentar-se e liberar o que quer que seja que a afligia, o resultado era as lágrimas silenciosas que corriam pela sua face enquanto diminuíam a sua dor.
-Sabe, não é normal que uma mulher prestes a se casar fique a chorar pelos cantos.
Virou-se. Era Martins, sem dúvida.


Nota: Resolvi continuar a postar o conto, espero que não haja problema.

5 comentários:

  1. Adorei o conto e seu blog também!
    Beijinhos

    ResponderExcluir
  2. Ui que legal, vou procurar os textos anteriores :)
    Beijos.
    http://blogdoceilusao.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. Lindo o conto, e você escreve bem. Continue assim (:
    beijos, www.doseadolscente.com

    ResponderExcluir