sábado, 19 de maio de 2012

Divergência - Parte I

Interior do Rio de Janeiro, Outubro de 1924

Bailes. A única diversão em uma época de crises. Crises. Sim, muitos problemas. Assim podemos resumir a vida da srta. Alice Ventura. Não, ela não era uma pessoa melancólica, mas depois de certos acontecimentos assim se tornou, a moça sonhadora escondeu-se e deixou apenas um fantasma do que um dia foi.
Na época, sua família passava por problemas financeiros, um pequeno produtor de açúcar, como o seu pai, já não conseguia sustentar todos e, por esta causa, viam em Afonso Montês, um jovem de uma rica família produtora de café, um ótimo pretendente. Porém, a jovem se recusava fielmente, conhecia o tipo de Afonso Montês e não queria passar o resto de sua vida tendo de aturar um marido com suas concubinas.
*
Este era mais um dos famosos bailes dados pela família Montês, o qual os Ventura sempre eram convidados, seja por serem excelentes bajuladores ou por terem como filha a moça mais bela da região. Alice conversava com sua amiga Anália, tentando se distrair, enquanto a última fazia seus costumeiros comentários fúteis: olha o vestido daquela moça, como está fora de moda! e olhe aquele rapaz, que horror, nunca vi homem mais feio! Apesar de ser assim, um tanto superficial, ela era uma ótima pessoa pra quem a conhecia bem como Alice.
- Olhe, Alice, mais um rapaz está a te admirar - disse, sorridente, mas não conseguiu disfarçar o tom um tanto ressentido. 
Ela olhou em volta até que encontrou um rapaz que, embora tentasse ser discreto, chamava a atenção com uma beleza peculiar graças aos seus olhos, tão azuis que chegavam a ficar cinzentos, tinha cabelos negros e, quando percebeu que a ele se dirigia a atenção da Alice, sorriu para a jovem.
- Parece ser um bom rapaz, mas talvez não seja pra mim que olha...
- Não seja boba! Céus, além de bonita e inteligente, é extremamente modesta, você existe srta. Ventura?  - depois de algumas risadas, recuperando o tom sério, continuou. - Ele seria um tolo se não a admirasse - e acrescentou, brincalhona - eu tenho que parar de te acompanhar nesses bailes, do contrário, nunca arrumarei um bom admirador!
 No entanto, os risos foram interrompidos, assim como a alegria fora extinta, com a chegada do sr. Montês que foi chama-la, mais uma vez, para caminharem um pouco. E, graças a mãe que, indiretamente, estava obrigando-a a ir, não teve como recusar.
*
Andaram um pouco, sem se afastar da residência, Afonso tagarelava muito sobre o mesmo assunto e no meio disso tudo encontrava espaço para lançar-lhe mais indiretas tolas enquanto Alice fingia escuta-lo quando, na verdade, se distraia observando o seu vestido novo de cor verde musgo. Ela estava se entretendo tanto que não notou a chegada de um rapaz até que ele tenha lhe cumprimentado. De súbito, o reconheceu, era o mesmo que a pouco tinha visto no salão.
-Posso saber o nome da bela moça?- perguntou.
-Sim, essa é a srta. Ventura - Afonso disse antes que a mesma o fizesse.
-Eu sou o sr. Martins, mas, deixando as formalidades de lado, sou apenas Timóteo, minha senhora.
-Então chame-me apenas de Alice, também.
Afonso, ciente que a nova companhia agradava a srta. Alice, tratou de afasta-la do rapaz e voltou a importuná-la com o mesmo assunto. Alice já não estava mais aguentando e, para a sua sorte, Timóteo percebeu seu desespero, então exclamou:
-Ah, Afonso! Já ia me esquecendo! Tem uma jovem à sua procura no salão, vá logo ver o que ela quer.
Afonso, rapidamente, disse-lhe milhares de desculpas por ter de se afastar, as quais Alice não se deu o trabalho de escutar, se despediu dos dois e foi para o salão à procura dessa moça.
-Você inventou isso, não foi?- Alice perguntou, depois de perdê-lo de vista.
-Bom, vi que não estava se divertindo muito com o meu primo, mas se quiser que eu o chame de volta...?
-Não! Está ótimo assim, obrigado.
Ele riu. Ela não pode deixar de pensar como era belo o seu sorriso.
-Ele logo voltará... vai esperá-lo?
-Eu não quero, mas não tenho pra onde fugir dele. Afonso me procuraria e me acharia, com certeza.
-Bom... conheço um lugar aqui perto, mas ninguém anda muito por ali, sabe? Só as crianças que moram aqui por perto, no entanto, a essa hora é bem provável que ninguém esteja lá.
-Ora, devo confiar no senhor? - Alice disse, com ar inocente.
-Só a senhorita pode decidir isso - afirmou, entrando na brincadeira.
Alice deu de ombros, os dois saíram, conversando. Ao contrário do primo, Timóteo a fazia rir, não lhe laçava indiretas, contudo que desde o primeiro momento que a viu demonstrou certo interesse por ela. Chegaram a um parque improvisado e se sentaram em um banco, conversaram durante horas até que Alice disse:
-Nossa, como é tarde! Eu tenho que voltar agora mesmo.
Os dois saíram, correndo, para chegar o mais rápido possível. De mãos dadas iam, enquanto riam como se tudo não passasse de uma brincadeira, mas, ora, o amor não é uma brincadeira para os jovens quando começam a descobri-lo?
Alice avistou a carruagem dos seus pais a frente, prontos para partir e se virou para Timóteo.
-Então, acho que isso é um adeus.
-Não! Diga-me onde posso encontra-la de novo?
-Na fazenda Esperança, aqui perto, Afonso sabe direitinho onde é - disse, com a alegria renovada.
E, virando-se, pronta para ir até ser interrompida por Timóteo, que a puxou pelo braço e a beijou rapidamente. Enfim, disse:
-Eu vou, prometo!
-Eu esperarei - sussurrou.
Essa foi a despedida dos dois, Alice chegou na carruagem e a mãe começou a discutir, perguntou por onde tinha andado e etc.
-Menina, como foi que se sujou toda? Olhe os seus sapatos!
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Olha a imagem que coloquei: Orgulho e Preconceito, amo demais esse filme! 
Pra você que não sabe o significado de Divergência: Diferença entre o que foi acertado com o que foi recebido. Agora, a dúvida, porque esse nome? Hum... Eu ainda estou decidindo como vai ser o final, será feliz ou infeliz? Com quem Alice vai se casar? Hum... Quero ver as hipóteses de vocês, ok? 
P.S.: Estou sem internet desde que me mudei, então, peço desculpas se não tenho retribuído comentários, postado com frequência e etc.

8 comentários:

  1. OI, já quero q chegue a parte II, amei o conto. Parabéns, mt talentosa.
    http://cheiasdeconteudolj.blogspot.com.br
    Srta Lili Potter

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  2. Que lindo o inicio deste conto, super me apaixonei por essa história, talvez seja porque se passa meio que no interior e provavelmente é um amor proibido, o que faz a história ficar demaaaais!
    Adorei.
    http://www.senhoritaliberdade.com/

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  3. Que linda história! Adorei seu blog e me apaixonei pelo nome dele "Florescer e Palavrear" Parabéns anjo!

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  4. Estou ressuscitando o blog de uma amiga que eu faço parte . o Pós Dezesseis
    da uma forcinha aê . Dá uma passadinha nele ?
    Olha , comenta segue se gostar
    Beijos Beijos .
    http://posdezesseis.blogspot.com.br/2012/06/recomeco.html

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  5. Obrigado, amores, por todo esse carinho *--*

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  6. Nossa!!! A-M-E-I!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Vc tem um dom viu! Podia escrever um livro! hehe

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    1. Obrigada, Lilian, e é justamente o que quero, mas acho que ainda não escrevo bem o bastante, quero fazer analogias, usar palavras complicadas e confundir o leitor que não está acostumado em refletir, mas ainda não sei fazer isto por meio de histórias (e nem conheço muitas palavras complicadas...), mas obrigada pelo carinho, pequena, me deu força para não desistir.
      Bjin*

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