quinta-feira, 20 de junho de 2013

Ensaio sobre a cegueira

Título: Ensaio sobre a cegueira
Autor: José Saramago
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 310.


Eu sempre gostei de fazer breves comentários no skoob sobre os livros que acabo de ler, anotando as minhas impressões finais. Mas com Ensaio sobre a cegueira foi um tanto diferente: quando cheguei na metade do livro, descrevi no histórico de leitura simplesmente um adjetivo. Embora já o tenha terminado, nada acrescentei. Esse adjetivo resume tudo: É perturbador.
É dessa massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade. pág. 40

Tudo começou com um motorista parado em frente a um sinal vermelho. Absolutamente comum, à espera do momento de continuar sua trajetória de volta para casa depois de um dia de trabalho. O sinal abre, mas ele não se move. Os carros atrás de si buzinam, eles também têm o que fazer porém há alguém atrapalhando-os. Alguns descem para ver qual é o problema, batem no vidro da janela, fazem perguntas, mas o homem possui apenas duas palavras nos lábios: Estou cego.
Assim começa uma epidemia de uma "treva-branca", uma cegueira, ao contrário do que sempre foi, branca, e sem motivo. O olhos dos pacientes não apresentam nenhuma lesão, mas eles não veem, não importa se dia ou noite, nada além de um infinito branco. O governo rapidamente toma providências contra essa doença que se espalha ninguém sabe como, trancando os cegos em quarentena, entregues à própria sorte. Entregues à própria essência.
Se eu voltar a ter olhos, olharei verdadeiramente os olhos dos outros, como se estivesse a ver-lhes a alma. A alma, perguntou o velho da venda preta, Ou o espírito, o nome pouco importa, foi então que, surpreendentemente, se tivermos em conta que se trata de uma pessoa que não passou por estudos adiantados, a rapariga de olhos escuros disse, Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos. Pág. 202
José Saramago é um visionário, um gênio, e todos os outros adjetivos estupendos que você possa dar-lhe. Esse livro mexe conosco de um modo único, forçando-nos a, como vi em algum lugar, fechar os olhos e ver. A quantidade de detalhes desse mundo sem olhos que ele descreve dá-nos a sensação, mesmo que somente durante a leitura, de estar lá, no meio deles, passando por tudo o que passaram também. Eis o motivo para o adjetivo perturbador ser perfeito.
[...] o ar fresco entra silvando e atiça o incêndio, ah, sim, não estão esquecidos, os gritos de raiva e de medo, os uivos de dor e agonia, aí fica feita a menção, note-se, em todo caso, que irão sendo cada vez menos, a mulher do isqueiro, por exemplo, está calada há muito tempo. Pág. 207.
A mensagem que traz também é belíssima: o que estamos nos tornando? Somos bombardeados por imagens diariamente, mas o que isso tem feito conosco?
[...] Queres que te diga o que penso, Diz, , Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem. Pág. 310
A linguagem foi mantida como a original, ou seja, português de Portugal entretanto não é nada difícil, aos poucos você se acostuma as diferenças pequenas na grafia das palavras. Um destaque é  modo como o autor escreve, isso sim requer atenção, ele não usa travessão ou aspas para os diálogos, ou sequer ponto de interrogação, como se estivesse nos forçando a prestar atenção, a interpretar. Achei isso incrível.
Continua a ser bonita, Já foi mais, É o que acontece a todos nós, sempre fomos mais alguma coisa, Tu nunca foste tanto, disse a mulher do primeiro cego. Pág. 267.
Termino essa resenha com dois trechos que amei, à sua interpretação. Espero que tenham gostado da resenha.
Não achou resposta, as respostas não vêm sempre que são precisas, e mesmo sucede muitas vezes que ter de ficar simplesmente à espera delas é a única resposta possível. Pág 249.
Quem sabe se entre estes mortos não estarão os meus pais, disse a rapariga dos óculos escuros, e eu aqui passando ao lado deles, e não os vejo, É um velho costume da humanidade, esse de passar ao lado dos mortos e não os ver, disse a mulher do médico. Pág. 284

18 comentários:

  1. Bom dia!

    Conhecer teu blog foi uma alegria,gostei muito menina.
    Parabens pelo belo trabalho.
    Abraços
    Sinval

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  2. Eu não li o livro, mas vi o filme e achei sensacional. No começo me pareceu uma história esquisita, algo surreal e muito distante. Mas com o tempo, passei a ver com outros olhos (sem piadinhas, rs) e pude entender o contexto que a trama quis passar.
    Enfim, vale a pena gastar um tempinho com a obra :)
    Beijão Samyle

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  3. Samyle,
    este é um dos livros que mais amei ter lido.
    Por que ele fez com que eu enxergasse algumas coisas importante sob outra ótica.
    Saramago me surpreendeu tanto, que fico imensamente feliz quando vejo resenhas, opiniões e críticas sobre ele.
    Adorei os trechos que você usou, os dois últimos também estão entre meus preferidos.

    Um beijo!
    Jhosy

    http://meninamsicaeflor.blogspot.com.br/

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    1. Fiquei assim também, mas acho que não percebi tudo o que o autor quis passar. Um dia, quando me sentir mais madura, vou lê-lo com a mente mais aberta, vou me esvaziar do meu eu, como já disse Eliane Brum, para ser preenchida pelos outros, no caso, pelo livro...

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  4. Eu já assisti o filme, mas não tive a oportunidade de ler o livro.

    http://senhoritapriscila.blogspot.com
    Curti a fan page? (www)
    @priscilafrr,
    beijo.

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  5. Eu deixei esse livro por muito tempo na minha lista do skoob, nem sei se ele ainda tá lá. Li a sinopse uma vez e achei interessante. Mas nunca tive vontade de lê-lo realmente... até agora. Tenho certeza que esse é o tipo de livro eu gosto. Só quando você falou "mexe conosco" eu já soube disso, sei que vou gostar, adoro livros assim.
    Não vejo a hora de ler ele :)

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    1. Então você é como eu: ama livros que realmente abalam a gente!

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  6. Olá
    Já ouvi falar mas ainda não tive a oportunidade de ver e nem de ler...
    Beijos

    cocacolaecupcake.blogspot.com.br

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  7. quase esqueço que também postas resenhas. adorei o texto. e estou dívida com saramago, eu sei. o único que li, até hoje foi "o ano da morte de ricardo reis". muito bom. procure. se conseguir achar, compre <3
    »»» Emilie Escreve

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    1. Eu também só li um! Mas quero comprar mais, mas só depois de comprar todos do meu Chico *.*

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  8. Nossa parece muito bom!!! Fiquei com vontade de ler! :)

    Adolecentro

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  9. Nunca li mas parece bem interessante, adorei a resenha!
    www.espacegirl.com

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  10. Eu vi o filme.
    Muitas cenas foram feitas em São Paulo.
    É um filme diferente.

    www.cchamun.blogspot.com.br

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    1. Não sabia disso, estou louca para ver o filme, espero conseguir nessas férias!

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  11. Ficou muito linda a resenha da obra do Saramago!
    O único livro que li dele foi O Cerco de Lisboa, porém foi uma leitura do qual não me agradou muito.
    Mas tentarei me aventurar em outras obras dele.


    Tecido Doce
    Sorteios

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    1. Nossa, que bom que gostou! Nunca li esse. Quero ler mais livros dele mas vou começar pelos mais famosos, acho...

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  12. Eu li até a metade desse livro e parei pq senti falta dos pontos finais, mas gostei muito da história. O filme também é muuuito bom e me deu mais vontade de ler. Um dia acho que volto e termino hahaha
    Ótima resenha!

    http://rascunhosecaprichos.blogspot.com.br/
    beeijos

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    1. No começo é meio chatinho mas depois a gente se acostuma com a falta de pontuação. A estória merece esse esforço ;)

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