terça-feira, 2 de julho de 2013

Sobre o tal do tempo

    Olho ao redor com surpresa: o inverno chegou, a natureza está meio mórbida, seu vento açoitando a pele. O frio não releva o casaco, sinto-o nas minhas entranhas. Ergo as mãos à boca e sopro ar quente com vontade, mas elas continuam geladas. Estou morta, só pode. Ou quase isso.
    A meu lado, ele observa atentamente a rua, provavelmente esperando a carona também. O prédio já está vazio, somente nós restamos. Todavia, a solidão impregna o ar. A gente sabe que não tem mais volta, esse é o tal do adeus. O meu primeiro adeus.
    Dizem que devemos nos desapegar de muitas coisas ao longo da vida: pessoas, objetos, situações cômodas. Porém nunca consegui por completo, seguindo em frente sem sequer lembrar como vi muitos fazerem. Tenho um medo tão grande de deixar partes de mim por aí e nunca mais me encontrar. Esse é meu pior pesadelo: abrir os olhos e não ser mais eu.
    É tolice importar-se com isto, imagino. Muitos já fizeram isso e sobreviveram, é um ciclo. Ano que vem muitos deixarão, muitos chegarão e construirão uma parte da sua história aqui, bem aqui, caminhando pelas mesmas calçadas e corredores por onde tantos já passaram e riram e choraram. Onde tantos já marcaram a sua vida, talvez a vida do próprio prédio. Passarão por este mesmo banco, quantas despedidas e reencontros ele já presenciou? Hoje foi minha última chance. Devo tê-la perdido por completo.
    Ele se remexe a meu lado, viro-me surpresa com sua inquietação. Estende-me uma flor trêmulo, tão nervoso quanto eu, suponho. Não sei o que fazer, minha boca se abre e fecha em seguida sem emitir som algum. Não sei o que dizer, sorrio em agradecimento mas meu peito dói. Um carro buzina freneticamente, escuto um grito mandando que me apresse. Tempo, tempo, quão cruel você é às vezes.

9 comentários:

  1. O tempo é cruel.
    Ele não pede licença, simplesmente passa.

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    1. Isso é muito relativo, na verdade, num momento pode estar acontecendo algo ruim pra você ao mesmo tempo que ocorre algo bom pra outra pessoa. De certo modo é justo ser assim. Nós é que deveríamos aproveitá-lo melhor.

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  2. É horrível se despedir de alguém e saber que aquilo pode ser pra sempre. De uma forma ou de outra despedidas mudam os relacionamentos. Sei exatam,ente como é esse sentimento, e acho que todos sabem. Não tem com o evitar, o negócio é sguir em frente.
    Beijos
    barradosno-baile.blogspot.com

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  3. Ah esse texto é de partir o coração! :(

    Adolecentro

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    1. Sabe, não estou conseguindo escrever coisas felizes ultimamente. Não que eu esteja infeliz, mas simplesmente não sai, não fica bom... E eu gostei desse. Talvez seja este o problema: coisas tristes andam me agradando.

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  4. Devemos nos apegar das coisas mais nunca esquece-las belo texto...

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    1. Acho que resumo esse ano, pra mim, deste modo. Tive de praticar exatamente isso todos os dias...

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  5. Eu me sinto tão cativada pelo que você escreve. Talvez seja triste, mas a felicidade cansa também, não digo que ela seja ruim... Sei lá. O tempo passa constantemente, mas quando você realmente precisa dele, precisa que ele passe e corra, ele não para, mas parece fraco.
    http://doisquintos.blogspot.com.br/

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    1. Escrevi, apaguei e reescrevi um monte de vezes uma tentativa de reflexão sobre felicidade para te responder dignamente, mas não deu. Sei lá, é muito relativo, depende de variáveis demais para minha cabecinha, e olha que eu tinha entrado numa feira de ciências com um trabalho sobre felicidade, mas troquei de grupo e agora estou com células IPS. Ciência é água com açúcar comparada com isso.

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